sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Egito, Êxodo e Deus: Parte II-e: As pegadas do deus da montanha


  Esta é uma pequena série de textos mostrando uma alternativa ao ponto de vista consensual sobre o êxodo do Egito, o Egito e regiões próximas nessa época e a formação da religião judaica, que por sua vez deu origem ao cristianismo e ao islamismo. Os textos estão divididos em duas partes. Esta segunda parte é dividida em seis partes menores.

 Estes textos são uma espécie de resumo, trechos retirados do livro “TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia” (título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald, Editora Landscape, 2004. O livro é muito mais abrangente e detalhado do que o mostrado aqui, com inúmeras referências e pontos de vista alternativos sobre os temas abordados. Nesse resumo suprimi as referências e adotei os pontos de vista escolhidos como mais prováveis e necessários para o desenvolvimento do raciocínio dos autores. Quaisquer dúvidas ou pedidos de referências podem comentar que responderei.

 Estes textos, obviamente, estão aquém do original, no entanto, conseguem mostrar satisfatoriamente que o que sabemos talvez não seja exatamente da forma que pensamos ser. Para todos que se interessam pelo Egito, religiões, História e pela incessante busca pela verdade.




 O senhor das Montanhas de Shara



 Além do anfiteatro natural e do púlpito nas encostas de Umm al-Biyara, Nielsen também encontrou pichações escavadas na face da rocha. Pôde distinguir uma “cabeça de touro triangular com a meia lua acima dela”, que ele afirmou ser parecida com exemplos encontrados nos antigos monumentos árabes.



 A principal deidade nabateia era Dhushara, que significa “Senhor das Montanhas Shara”, sendo Shara o nome aramaico do maciço de Seir. Inicialmente, era representado apenas de forma abstrata, geralmente um bloco retangular, com olhos e um nariz. Durante a ocupação romana, Dhushara assumiu forma antropomórfica, que também se pode ver em alguns santuários esculpidos na rocha em Petra e em seus arredores.



 Assim como Yahweh, Sin e outros deuses da lua semíticos, Dhushara também podia se relacionar com o touro do céu, cujo corpo era amontanha sagrada e cujos chifres eram a lua crescente. Dessa maneira, vemos que o deus nabateu das montanhas tinha muito em comum com Yahweh, a deidade dos israelitas, que parece ter sido o genius loci do Monte Horeb, ou monte Sinai, a montanha da lua.





 A Adoração a Vênus



 A consorte de Dushara é lembrada em Petra pelo nome árabe pré-islãmico, al-Uzza, e representada por um bloco em um betil (beth-el, em hebraico, que significa “Casa de Deus”) com olhos, nariz e também boca. Ela era a personificação do planeta Vênus. Seu nome pode originalmente ter derivado do acádico uz, que significa “bode”. Esse era o principal animal sacrificado às diversas formas de Vênus em todo o Oriente Próximo, onde além de al-Uzza ela era conhecida como Allat, Astarte, Atargatis, Ishtar e rabbat al-thill, “a Senhora do Rebanho”. O símbolo de Ishtar-Vênus era uma estrela de sete pontas inscrita em um círculo, e esse símbolo foi encontrado em duas estelas esculpidas desenterradas em Harã, ao passo que na arte grega há uma forma de Vênus (ou Afrodite) que aparece montada em um bode, o que mostra seu vínculo com a promiscuidade sexual. Aliás, na tradição cristã primitiva, Ishtar-Vênus evoluiu para a Prostituta da Babilônia que, no livro do Apocalipse, segura a taça das abominações e cavalga a besta do apocalipse, que tem sete chifres. Ainda hoje em Petra vendem-se aos turistas estátuas de bronze de al-Uzza, ou Allat, segurando uma taça.



 Parece haver uma relação direta entre a adoração a al-Uzza e o bode expiatório que Aarão mandou a Azazel no Monte Seir. O ritual do bode expiatório pode muito bem ser uma lembrança confusa de holocaustos com bodes feitos a uma forma bem anterior de al-Uzza, talvez ligada com a crença erudita de que Yahweh tinha uma consorte chamada Asherath, simplesmente um outro nome de Allat, ou Astarte.



 Nielsen propôs que a paisagem entre Petra e Jebel Hilal (hilal significa “lua nova”) era a localização original do deserto de Sin, ao passo que o Jebel Al-Madhbah de Petra era a “Montanha da Lua”, portanto a verdadeira localização do Monte Sinai. Nenhum estudioso moderno parece ter levado suas teorias a sério, apesar das provas esmagadoras que demonstram que Petra era a antiga Cades.





 O Monte de Santo Aarão



 Não se sabe quando exatamente começou-se a associar a Jebel Harûn o profeta Aarão, Nabi Harun, na tradição maometana. O nome da montanha deriva do nome de Aarão, do hebreu, Aharon (aramaico haroun) traduzido como haron, significando “altivo, exaltado”, ou “montanha de força”, insinuando que o irmão de Moisés tirou seu nome da montanha. O curioso é que o apelido iídiche do nome hebraico Aarão é Arke, o nome antigo de Petra, coincidência que não podemos ignorar.



 Segundo o Deuteronômio, a vida de Aarão terminou no monte Hor (hor significa apenas “montanha”), e tanto ele quanto Moisés foram destinados a serem torturados, avistando a Terra Prometida, mas jamais tendo permissão para entrar nela. Antes de sua morte, Moisés contemplou a herança dos israelitas do alto do Monte Nebo, no cume de Fasga, na terra de Moab, antes de morrer ali. Antes, Aarão havia sofrido o mesmo destino, depois de contemplar a Terra Prometida do alto do monte Hor. Assim, sabendo que do pico de Jebel Harûn tem-se uma vista ininterrupta do que fica além do Wadi Arabah, ou seja, Israel e a Palestina modernos, uma identificação com o monte Hor é perfeitamente possível.



 Andrew Collins ouviu o relato de uma lenda antiga que falava da presença da tumba do profeta em Jebel Harûn. De acordo com ela, Nabi Harûn veio do Egito em um cavalo verde voador! Cada vez que os pés do corcel tentavam tocar num pico de montanha, a montanha desmoronava devido ao peso. Isso aconteceu seis vezes, até finalmente o cavalo e seu cavaleiro chegarem a Jebel Harûn, onde o animal finalmente conseguiu aterrizar sem problema.



 Trata-se claramente de uma história fantasiosa e, no entanto, seu desvio extraordinário da história tradicional subentende algum tipo de origem independente. O cavalo voador verde, suas tentativas de pousar nos cumes e o fato de Jebel Harûn ser vista como a sétima montanha (sete sendo um número importante na cosmologia do Oriente Próximo, na qual está ligado a Vênus e à cor verde) tendem a sugerir que a lenda original não estava absolutamente ligada a Aarão. O mais provável é que se relacionasse com alguma deidade pagã muito antiga que se confundiu com a figura de Aarão em uma data bastante posterior.



 A montanha que mais se destaca como possível candidata a monte Seir é Jebel Harun, o monte Hor da Bíblia. Contudo, não podemos afirmar com certeza se também era o monte Shara, uma vez que o templo nabateu em Petra conhecido omo Qasr el-Bint, e que se pensa ter sido dedicado a Dhushara, tem orientação no sentido norte, na direção da moderna Jebel esh-Shara, “a montanha da qual ele era Senhor”. Os autores têm certeza que a Montanha de Deus, onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos e conversou com Yahweh, combina muito bem com o Jebel al-Madhbah de Petra, o Lugar Alto, ao passo que monte Hor e o monte Seir, onde aconteceu o ritual do bode expiatório, são, quase certamente, Jebel Harûn.





 Os Pés de Deus



 De acordo com o livro do êxodo, Moisés permitiu que seu irmão Aarão, os dois filhos mais velhos deste, Nadab e Abihu, e setenta anciãos, subissem ao “monte” de Yahweh. Diz-se que, ao atingir um certo nível da montanha, eles viram “o Deus de Israel; e sob seus pés havia como um pavimento de safira, pura como se fosse o próprio céu”. Confirma-se que esse evento ocorreu no monte Sinai pelo fato de depois Moisés ter ascendido ou “subido”, ao mesmo “monte” na ocasião em que obteve as Tábuas da Lei.



 No chamado Vale Secreto da Pequena Petra, pares de pés foram escavados nas faces rochosas, em geral na base das montanhas. Seu tamanho grande, e o fato de sempre aparecerem em posição ascendente, implica com toda a possibilidade que representem os pés de deuses, ou de um único deus, que se considerava habitar a região. Para os beduínos, os pés escavados na rocha são um sinal de que o lugar é santo e que eles devem tirar os sapatos antes de prosseguir, como é de costume nas mesquitas.



 Um fator significativo sobre os pés gigantes encontrados nas rochas em torno de Petra é que alguns deles parecem infinitamente mais antigos que o período nabateu. Um par está dentre as esculturas neolíticas de uma cabra selvagem perseguida por caçadores, que antecedem a era dos sahsu e dos edomitas em milhares de anos.





 O Ódio de Temã / As Origens de Esaú



 A animosidade dirigida contra os povos do Edom por esses primeiros profetas judeus, só pode ter surgido de rancor contra o fato de Moisés ter recebido as leis de Israel de uma montanha sagrada na terra de Edom, que também se pode chamar de “monte Farã” ou “monte de Esaú”.



 Depois da conquista de Canaã, a Bíblia praticamente não fala mais na montanha de Yahweh. O mais provável é que isso tenha ocorrido porque as rígidas leis religiosas implementadas pelos reis israelitas e judeus posteriores não permitiam mais que se citassem as práticas hebraicas de seus antepassados, os edomitas, descendentes de Edom, ou Esaú. Edom significa, simplesmente, vermelho, com toda probabilidade por causa da cor predominantemente vermelha dos penhascos de arenito de Petra e seus arredores. Assim, Esaú ou Edom era simplesmente outro nome para o genius loci da cidade, ou o “espírito local”. Dessa maneira, “monte Farã” e “monte de Esaú” eram apenas nomes alternativos do monte Sinai, em outras palavras Jebel al-Madhbah.



 Esaú também era, aparentemente, homônimo de um deus ancestral da raça humana chamado Usous, ao qual se refere Filo, um historiador de Biblos, na costa do Levante, que viveu no reinado de Adriano, imperador de Roma, por volta de 120-140 d.C. De acordo com Filo, sanchoniatho (historiador fenício, por volta de 1200 a.C.) alegava que Usous era “o inventor das roupas para o corpo que ele fazia das peles dos animais selvagens que conseguia caçar.” a esse respeito, podemos lembrar que o nome de Esaú em Hebreu significa “peludo”.


Parte II-d: Yahweh na Cidade de Pedra 
Parte II-f: Conclusões sobre Deus  

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