segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Egito, Êxodo e Deus: Parte I c: O messias egípcio; e o fim do faraó monoteísta

   Esta é uma pequena série de textos mostrando uma alternativa ao ponto de vista consensual sobre o êxodo do Egito, o Egito nessa época e a formação da religião judaica que por sua vez deu origem ao cristianismo e ao islamismo. Os textos serão divididos em duas partes. A primeira parte será dividida em quatro partes menores.
  Estes textos são uma espécie de resumo, trechos retirados do livro “TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia” (título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald, Editora Landscape, 2004. o livro é muito mais abrangente e detalhado do que mostrado aqui, com inúmeras referências e pontos de vista alternativos sobre os temas abordados. Nesse resumo suprimi as referências e adotei os pontos de vista escolhidos como mais prováveis e necessários para o desenvolvimento do raciocínio dos autores. Quaisquer dúvidas ou pedido de referências, podem comentar que responderei.
  Estes textos, obviamente, estão muito aquém do original, no entanto, conseguem mostrar satisfatoriamente que o que sabemos talvez não seja exatamente da forma que pensamos ser. Para todos que se interessam pelo Egito, religiões, História e pela incessante busca pela verdade.

Parte I c: O messias egípcio; e o fim do faraó monoteísta

  A queda de Aton


  Muito foi subitamente eliminado no fim do reinado de Aquenaton, quando primeiro Smenkhkare e depois Tutancâmon transferiram a corte real para Mênfis e restituíram a Tebas a função de grande centro religioso do Alto Egito. Aqueles que haviam se mudado para a cidade de Aquenaton por motivos meramente práticos, simplesmente fizeram as malas e voltaram de onde tinham partido. Mas os muitos convertidos à nova religião provavelmente não puderam simplesmente sair de Aquenaton, deixando para trás tudo o que acreditavam com fé tão ardente nos últimos treze anos. Assim, os seguidores fervorosos da fé de Aquenaton e seu Aton provavelmente permaneceram na cidade, continuando a realizar seus rituais, cerimônias e celebrações diários ao disco solar, antes do colapso definitivo de sua infraestrutura social obrigá-los a abandonar a cidade pra sempre. Dali por diante, Aquenaton rapidamente tornou-se pouco mais que uma cidade-fantasma, ocupada apenas por tribos nômades que teriam usado seus antes grandiosos edifícios como abrigo, até que finalmente ela foi sendo desmontada até os alicerces durante o reinado de Horemheb.


  Os sacerdotes e indivíduos que permaneceram leais a fé agora considerada ilegal de Aquenaton teriam sido considerados hereges, e deviam ser rejeitados pela comunidade se não voltassem a adotar o politeísmo egípcio outra vez. De certa maneira, podemos compará-los aos primeiros cristãos de Jerusalém, e depois, de Roma, que foram evitados e rejeitados por romanos e judeus. Não é improvável que eles tenham ficado conhecido como “leprosos” sociais, ou “impuros”, termos usados por Manetho para descrever os seguidores de Osarsiph-Moisés, embora não fossem doentes nem corruptos, simplesmente párias da sociedade.




  Osarsiph-Moisés como Aquenaton


  Foi no quinto ano do reinado de 17 anos de Aquenaton que ele abandonou o nome Amenófis IV e, apenas um mês depois, chegou ao local de sua futura cidade. Esse deve ser compreendido como o ponto de partida da heresia, que continuou por doze a treze anos, até a suposta morte de Aquenaton, no ano 17, correspondendo, por sua vez, aos treze anos da rebelião de Osarsiph-Moisés. Weigall entendeu que isso não podia ser coincidência, e também os egiptólogos, nos últimos anos, vêm defendendo tal tese. Algumas ideias de Jan Assman, professor de Egiptologia na Universidade de Heidelberg, resumem a narrativa de Manetho sobre Osarsiph –Moisés nos seguintes termos:


  A história dos leprosos pode, portanto, ser explicada como um evidente caso de lembrança deslocada e distorcida. Nessa tradição, sobreviveram reminiscências egípcias da revolução monoteísta de Aquenaton. Mas devido ao banimento do nome de Aquenaton e dos correspondentes monumentos da memória cultural, essas reminiscências deslocaram-se e ficaram sujeitas a diversos tipos de transformações e proliferações.




  A Co-Regência


  Manetho nos diz que o faraó que se opunha ao “leprosos” e aos “impuros”, obrigado a fugir do Egito antes de voltar para expulsar os seus inimigos e os povos asiáticos, foi Amenófis. No primeiro caso, podemos identificá-lo como o pai de Aquenaton, Amenófis III, em cujo reinado viveu um ministro muito popular chamado de Amenófis-filho-de-Hapu, inquestionavelmente o personagem histórico por trás Amenófis filho de Papis, da narrativa de Manetho.


  Parece relativamente coreto declarar que durante os anos finais de sua vida, Amenófis III reinou junto com seu filho, Aquenaton, talvez durante onze ou doze anos. Obtiveram-se provas disso em virtude de várias descobertas fundamentais, notadamente no sítio arqueológico da cidade de Aquenaton, em Tel-El-Armana. Tais evidências representam a base perfeita para propor que o pai de Tutancãmon não era Aquenaton, como muitos estudiosos já disseram, mas na verdade Amenófis III, tese defendida por Pendlebury já em 1936.


  A questão da existência de uma co-regência entre Amenófis III e Aquenaton foi debatida pelo perito em Amarna Cyril Aldred, com grande repercussão, em sua obra clássica Akhenaten: King of Egypt. Embora não possamos citar aqui todas as provas que ele apresenta, suas conclusões são claras:
A co-regência de amenófis III com seu filho, de acordo com as provas que temos, durou mais de doze anos... por mais perturbadora que possa ser essa conclusão, não temos opção a não ser aceitá-la.
Os atos de Aquenaton devem ter causado tal consternação entre os sacerdotes, que podemos imaginá-los suplicando a ajuda ao faraó mais velho, Amenófis III, para evitar que o país caísse em um estado de caos e abandono.




  Amenófis-filho-de-Hapu


  Pelas provas textuais disponíveis, podemos ter certeza de que Amenófis-filho-de-Hapu era um favorito do monarca idoso. Seus conhecidos títulos também confirmam a conclusão de Manetho, que, a mando do rei, “Amenófis, filho de Papis”, reuniu cerca de 80 mil “leprosos” e “impuros” e os enviou para trabalharem em pedreiras “a leste do Nilo”. Para entender melhor os eventos históricos por trás do relato de Manetho, devemos expandir o período de maneira a encampar os papéis desempenhados pelos reis que vieram depois de Smenkhkare e Tutacâmon, sucedendo-os no trono do Alto e Baixo Egito. Por exemplo, no início do relato sobre Osarsiph Moisés, lemos:


  Este rei [ou seja, Amenófis] desejava tornar-se espectador dos deuses como Orus, um dos antecessores naquele reino, desejou o mesmo antes dele.


  Quem exatamente seria esse Orus, afinal, ou apenas Or, grafia opcional do seu nome? Se consultarmos a Epítome, ou as listas de dinastias, originalmente incluídas na Aegyptiaca de Manetho – e agora encontrada apenas em segunda mão dentro de obras posteriores escritas séculos depois – encontraremos esse rei entre os governantes da 18ª Dinastia. Por exemplo, em versões das listas dos reis preservadas por Josefo e certos cronistas cristãos anteriores, um faraó chamado Orus reinou ali entre os anos 28 e 38, e em geral se diz que foi um reinado de 36 anos e 5 meses. Mesmo assim, seu nome se encontra não antes, mas diretamente depois do reinado de um rei chamado “Amenófis”, ao qual em geral atribui-se um reinado de 31 anos. O fato de esse Amenófis ser Amenófis III fica claro a partir de sua posição na lista de 14, 16 ou 18 reis a partir dessa dinastia, dependendo da fonte citada. Essa conclusão confirma-se mediante o fato de que, ao lado do nome de Amenófis na lista, aparecem as palavras: “este foi o rei que supostamente era Memnon e uma estátua falante”. Aliás, Amenófis III reinou 38 anos, e não 30 ou 31 como Manetho diz, embora este seja um erro de somenos importância quando comparado aos registros de Manetho dos outros reis da 18ª Dinastia.


  Sabemos por intermédio de Manetho e suas listas que o rei chamado Orus reinou depois de Amenófis III, mas antes de uma série de reis qu só se podem comparar com os governantes conhecidos da era de Amarna. Eles começam com um tal de Acencheres (também conhecido como Acherrês, Achenchersês ou Achencheres), que sem dúvida era Aquenaton., apesar de os 12 ou 16 anos a ele atribuídos não conferirem com a duração real de seu reinado, que foi na verdade de 17 anos. Porém, deve-se recordar que a confusão que cercou essa lista de reis de Amaná provém do fato de que toda a lembrança de seus reinados foi apagada dos registros oficiais. Isso pode, portanto, explicar porque, em duas versões de Manetho, se diz que Acencheres era filha de Orus! Se isso tem ou não algo a ver com o estilo artístico incomum adotado por Aquenaton, ou alguma confusão derivada de sua co-regência com Nefertiti, não se sabe.


  Depois de Acencheres vem, em duas versões da Epítome de Manetho, “seu irmão”, “Rathotis” (ou Rathos), ao qual se atribui um reinado de seis ou nove anos. Uma outra versão das listas dos reis diz que o faraó que reinou depois de Acencheres foi Acherres, ao qual se atribui um mandato de oito anos. Pelos nomes e anos de reinado atribuídos a esse rei, ele só pode ser Tutancâmon, que atingiu o nono ano de reinado.


  Isso se pode afirmar com certeza, mas nas diferentes versões da Epítome de Manetho segue-se depois de Rathotis uma série de reis com durações de reinados e registros conflitantes; alguns são simplesmente uma repetição de Aquenaton, retornando seja sob o mesmo ou outro nome ligeiramente alterado. Outros só podem corresponder a Nefertiti, Smenkhkare ou Aye. Finalmente, as listas incluem um faraó reconhecível – Ramessês. Mesmo assim, parece uma lembrança um pouco misturada tanto de Ramsés I, que reinou apenas um ano após a morte de Horemheb, por volta de 1308 a.C., e seu neto Ramsés II, que reinou 67 anos, por volta de 1290-1224 a.C. Além do mais, ambos os reis pertencem à 19ª Dinastia, não à 18ª, onde Manetho os inclui. Então, quem era exatamente Orus, o rei que se diz ter reinado entre Amenófis III e Aquenaton? A resposta é que seria Horemheb, o grande responsável por toda essa confusão, antes de mais nada. Devido ao fato de ele estender a duração de seu reinado por volta de 27 anos, incluindo o dos quatro reis que o antecederam, ele se atribui um reinado sobre o Alto e Baixo Egito que durou 59 anos. Não só Horemheb é o Orus das listas de reis de Manetho, como também reaparece com o nome de Harmaïs, (também conhecido como Armesis ou Armais) durante um reinado de 4 a 5 anos imediatamente anterior ao do Ramessês mencionado acima.


Parte I b: O profeta e o êxodo do Egito como não conhecemos
Parte I d: Castigo dos deuses: As pragas do Egito  

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