quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Drunken Bike

 Era uma manhã quente e nenhuma nuvem à vista. Resolvemos dar uma volta, ir para algum lugar diferente. Eu e Leli fomos com o William no carro dele para uma cidade próxima, munidos de vodka, conhaque, refrigerante, suco, gelo e narguile. Era uma cidade pequena, nos afastamos do centro e acabamos em uma estrada de terra. Paramos em um local com gramado, alguns arbustros, poucas árvores; o outro lado da rua margeado por barrancos de terra vermelha.

 Ficamos embaixo de uma das árvores preparando as bebidas e o narguile. Conversamos, bebemos, fumamos, bebemos, tocamos violão e cantamos, bebemos. Depois de certo tempo nessa rotina, juntou-se a nós uma garota, conhecida do william: andressa - que já parecia meio alta quando chegou lá.

 Com Andressa veio outro cara que não me lembro o nome. Ele estava de bicleta e foi conversar com a Leli. Ele parecia estar dando em cima dela, mas ela como normalmente fazia, disse depois não ter percebido nada. Ela já tinha bebido bastante e, teve a brilhante idéia de andar com a bicleta de seu novo amigo. Ele pareceu meio preocupado, mas deixou. Ela foi em direção aos barrancos do outro lado da rua. Ela queria subir por eles com a bicicleta, a qualquer custo. Os barrancos eram razoavelmente íngrimes, 2 a 3 metros de altura mais ou menos, e a terra vermelha deslizava com muita facilidade.

 Na primeira tentativa o pneu dianteiro afundou em um pouco de terra que estava mais fofa, fazendo o guidom girar para a direita, desequilibrando Leli, que teve sua queda amortecida pelo seu rosto contra o chão. Ela levantou cambaleante, rosto sujo e arranhado e um pouco de sangue no lábio. O cara com ela a ajudou a levantar-se e tentou - sem sucesso - convencê-la a deixar a bicicleta.

 As tentativas continuaram; os tombos também. Nós gritávamos, entre um trago e outro, para que ela parasse. Ela não parava, e seu estado estava cada vez pior. Quando já parecia quase esgotada subiu mais vez na bicicleta, tomou impulso, e correu, subiu quase tudo (quase); quando a roda da frente ultrapassou os 2 metros à sua frente, a bicleta girou para a esquerda e ambas (bicicleta e leli) caíram rolando.

 Leli, deitada de bruços, levantou a cabeça em meio ao pó e sofregamente começou a se arrastar em direção à estrada de chão. Ela estava coberta de vermelho, a  calça com vários rasgos, na camiseta também havia um furo ou outro; seus cotovelos, joelhos e ombros estavam todos ralados e com sangue. Ela conseguiu se levantar (ou o mais próximo disso) e,  com a altivez que talvez tivesse um zumbi depois de pasar por umas boas, ela parou, aguardando um carro que se aproximava. Ela começou a acenar com o braço menos machucado para que o carro parasse para levá-la a algum médico - william e eu não estávamos em condições de dirigir. O carro diminuiu a velocidade, mas não o suficiente, acertou-lhe em cheio, mas não muito forte. Após cair no chão, Leli ajoelhou-se, com uma cara que misturava expressões de indignação, surpresa, riso, raiva e mais alguma coisa que não pude identificar. Ela olhou ao redor, olhou para nós e disse com essa mistura de expressões em meio ao que pareciam ser risos:
 - Ele me atropelou! Vocês viram?! Eu não acrredito! Olha o meu estado! E ele me atropelou!

 O carro, com o parachoque na altura mais ou menos da testa de Leli, acelerou um pouco encostando nela. Mas ela consegiu afastar-se um pouco a tempo de avitar o choque em sua cabeça, acertando-lhe apenas o ombro, de leve. O motorista estava com uma cara de quem espera o sinal de transito abrir, parecia um pouco entediado, um esboço de sorriso no canto do rosto, ou apenas tédio. Ela gritou ao motorista:
 - Tá bom! Tá bom! Já entendi! Já tô saindo.
 E arrastou-se até onde estávamos.
 O motorista olhou para o lado, ela saiu da pista, ele balançou a cabeça - o aparente sorriso no canto da boca pareceu evidenciar-se um pouco - e seguiu viagem.

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