quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uma questão de oportunidade (O inferno existe? - parte II)

 Ela estava linda, radiante, com seus cabelos ruivos balançando ao som da música. A forma que seu corpo se movia era alucinante. Marcos ficou praticamente a noite toda ao lado dela, tentando acompanhá-la. Até que ao final da festa, ela demonstrou que não ia rolar nada, então marcos ficou com a amiga da ruiva mesmo. Era ainda mais bonita, mas tinha namorado, o que fez marcos pensar que teria poucas chances. Algumas luzes acesas no salão de festas, luzes fracas, e uma música lenta tocando. Tudo perfeito. Ele a puxa para perto de si e a beija.
 - E seu namorado?
 - Terminamos há umas duas semanas mais ou menos.
 O tempo passa e ele se apaixona por ela, e ela por ele – pelo menos era o que ele achava. Passam-se 6 meses, e o relacionamento deles não evolui. Na realidade ela ainda ama o ex-namorado e ele não a deixa em paz, está sempre tentando permanecer próximo dela.
 Em uma tarde, Marcos e Cláudia estão andando por uma praça, de mãos dadas – o que era algo difícil de acontecer: estarem tão próximos e à vontade, sem se preocupar que outras pessoas pudessem vê-los juntos. Sentam-se em um banco e se beijam. Foi um dos melhores momentos que já teve com ela. À noite vão para a casa de Cláudia, deitam-se na cama e assistem a um filme. O filme acaba, a tv é desligada, as luzes já estão apagadas. Ele sobe sobre ela e a beija. De manha marcos exige uma posição definitiva de Cláudia. Ou ela realmente fica com ele ou eles não ficariam mais. No dia seguinte Cláudia reata o namoro com seu ex-namorado. Na realidade ela era fraca, covarde e insegura. Bastava que o cerco apertasse a sua volta para que ela pulasse fora.
 9 meses depois nasce a filha de Cláudia e Leonardo. Nem com os cabelos negros da mãe ou loiros do pai. Castanhos, escuros e lisos, coincidentemente muito parecidos com os de marcos.
 Dois anos mais tarde Marcos se casa com Rosa - amiga de infância - e têm um filho. Leonardo que durante esse tempo se tornou seu melhor amigo é o padrinho de casamento e também da criança. No começo foi difícil estar tão próximo do homem que lhe tirou a mulher que ele amara tanto, mas quanto mais o tempo passava, mais amigos ficavam, até se considerarem como verdadeiros irmãos. Marcos vai levando sua vida, abre em casa uma pequena assistência técnica para conserto de computadores. Mantém durante todo esse tempo uma amizade saudável com Cláudia. Mas em sua casa, depois de 5 anos as coisas não vão tão bem:
 - Nós precisamos de dinheiro! A prestação do carro está atrasada, e se não pagarmos o aluguel até amanhã você vai pagar a multa. Meu salário do hospital – onde rosa trabalhava como ajudante de serviços gerais – não vai dá pra pagar todas as contas!
 - Eu sei disso. Eu vou ter o dinheiro.
 - Onde você vai?
 - Beber!
 - Espera aí!
 Marcos sai. Vai até o bar na esquina da rua onde moravam e toma uma dose de cachaça acompanhada de uma garrafa de cerveja. Sente-se bem melhor. Seu celular toca:
 - Oi. Marcos?
 - Oi. Tudo bem Cláudia?
 - Tudo. Na verdade to com um problema no computador. Você tá muito ocupado pra vir aqui dá uma olhada?
 - Não, não. Já chego aí.
 Ele manda uma mensagem para o celular da esposa dizendo que vai à casa da amiga para ver o que há de errado com o computador.
 O computador está no quarto. Marcos procura o problema. Nada muito complicado, o serviço é rápido.
 - Onde está sua filha?
 - Foi te chamar na sua casa. Você não estava e ela pediu pra ficar lá brincando.
 Um pouco de silêncio. Ele senta na cama e olha pra baixo.
 - O que foi?
 - Nada não. Problemas em casa. Normal.
 - É assim pra todo mundo. Eu tenho que ficar dias às vezes sem ver o Leonardo. Faz 3 dias que ele saiu com o caminhão e só volta amanhã. Não é fácil.
 - É, bastante tempo pra um homem ficar longe de sua mulher – marcos mostra um sorriso malicioso.
 - Ai! Eu confio no meu marido. Sei que ele não me trairia.
 Marcos sabia que isso não era verdade. O amigo realmente amava muito a esposa, mas não passava sozinho todos os dias que estava longe de casa. A mulher vai em direção ao aparelho de som, próximo de marcos, e coloca um cd, que toca em um volume bem alto. Então Marcos se aproxima mais de Cláudia, ela se aproxima também. Quando percebem já estão nus e rolando pela cama, em êxtase. Até que a porta do quarto é bruscamente aberta. Marcos, que estava em cima da mulher é empurrado por ela, e salta para o lado da cama próximo à porta. Não sabe o que pensar ou o que dizer, e não tem tempo para isso: Leonardo acerta-lhe um chute no estômago. Marcos fica sem ar, abaixa a cabeça e recebe mais um chute, as paredes giram, a visão fica turva, ele apaga.
 - Se fosse qualquer outro, eu apenas deixaria ir embora. A culpada é a vagabunda! Ela me devia satisfações e respeito. Mas você! Eu confiava mais do que confio em mim mesmo!
 Marcos sente uma dor aguda e desperta totalmente. Fica apavorado com o que vê: seu pênis ensanguentado no chão. Seus gritos são sufocados pela fita ao redor de sua boca. Seus pés e mãos presos pelo mesmo tipo de fita adesiva e, pela fita dos braços, Marcos e Cláudia estão pendurados em ganchos chumbados à parede, em lados opostos, na área de serviço da casa. Ele queria ter a chance de explicar ao amigo o que aconteceu – Leonardo devia pensar que estava sendo traído durante todos aqueles anos, em que trabalhara tendo que viajar e ficar por muitas vezes vários dias longe de casa. Olhando para frente, vê Cláudia, e seu seio esquerdo sendo separado de seu corpo por uma faca ensanguentada. Em seguida ele vê o amigo ajoelhar-se:
 - Não se preocupem com a morte. Vocês provavelmente vão sobreviver a esses ferimentos, e vão lembrar pra sempre desse dia, e se arrependeram pelo resto de suas vidas! Eu posso até ir para o inferno, mas irei sabendo que vocês viverão com o castigo que merecem.
 Passam-se alguns minutos, marcos sente um constante latejar entre suas pernas, e um pouco de tontura. À sua frente, está Cláudia, com uma aparência exausta, com o rosto molhado de lágrimas e suor. A porta da área de serviço se abre. É Rosa. Um misto de desespero, vergonha, esperança, euforia, tomam conta de marcos. Rosa com um olhar perplexo observa a cena. Pega a faca do chão e vai na direção do marido, que agora se encontra apenas em desespero: “eu só quero a chance de me explicar! Não busco perdão. Eu mesmo enfio essa faca em meu peito! Só quero poder contar o que aconteceu! Sei o que as pessoas vão pensar, as conclusões que iram tirar, e não é verdade. Só quero que alguém saiba o que realmente aconteceu.” Mas as palavras ficam só em seu pensamento, pois a fita continua tapando sua boca. A faca passa em sua garganta, o sangue escorre, ele engasga, não consegue respirar, tudo fica escuro. E há tempo apenas para um último pensamento: “eu só queria poder explicar.”

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