quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Planície de Narcisos

A casca reluzente, de verde viçoso, que cobre a tez
Mostra-se fortificada, como quem alheio a tudo
Passa correndo pelo mundo, cego e mudo,
E estagna, distorcida renascentista estátua e sua palidez

O sorriso buscado: expressão máxima de contentamento
O olhar rebuscado que mal esconde as pupilas congeladas
Febris e vidradas. Nesse castelo de cartas rotas, bem gastas
Que sustentam o vazio e pesado interior: não-vivendo; não-morendo

Cedo ou tarde a parede de verde vidro racha
Vaza aos poucos o cinza incandescente e apático
Que gotejando lento, queima e, as cartas rasga

E esse vazio escondido nesse clichê dramático
Essse monstrengo torto de inteligência parca
Observa de seu trono, de retahos, letárgico

quinta-feira, 10 de julho de 2014

É apenas mais um fim do mundo diário e constante

 - Nossa! 7 x 1 para a Alemanha!

 - Pois é. Mas não é o fim do mundo...

 - Não pra todo mundo. Mas você viu a quantidade de gente chorando, queimando bandeira, ônibus e destruindo vitrines por aí?

 - Mas isso, pelo menos de acordo com o modo que vivemos hoje, é inevitável. Se não é algo proposital, no mínimo é um ônus calculado. Nós temos inúmeros estímulos diários que nos mostram uma realidade onde podemos tudo. Basta acreditar em si mesmo, ou ter fé em Deus, ou um dos mais eficientes: basta não desistir nunca. Aí, quando nem reza braba resolve as pessoas se revoltam. Mas é por um tempo determinado, e no fim, tudo volta como era antes: todos achando que faltou um pouquinho mais de fé ou um pouquinho mais de perseverança.

 Parece que ninguém entende que algumas vezes só "não dá". E todo mundo consegue enxergar o problema quando é com outro, mas, consigo mesmo, aí é diferente, porque com você mesmo a coisa sempre é diferente.

 Essa história de "sou brasileiro e não desisto nunca" parece uma enorme babaquice mas, algumas vezes, até parece que faz algum sentido - parece; ou talvez todos sejam assim, mesmo - não apenas os brasileiros. Tipo, você não tem grana nem pra comida e aluguel do mês, direito, e ainda assim vai e financia um carro zero. E não pode ser qualquer carro zero: não pode ser 1.0, tem que ter 4 portas, ar-condicionado, equipamento de som profissional...

 Você sabe (ou não) que tem certas limitações intelectuais, que mal consegue passar em um vestibular de qualquer universidade particular, de qualidade duvidosa, porque você zera a prova, mas insiste em pagar cursinho atrás de cursinho para passar em concursos públicos onde há uma vaga para 100.000 mil inscritos.

 O cara sabe que a beleza não é uma de suas melhores qualidades, tão pouco é esperto e sua "lábia" mal consegue manter a atenção de sua própria mãe sobre ele por mais de alguns segundos. Ainda assim a pessoa insiste em ir à balada e tentar alguma coisa apenas com  a mulher (ou homem) mais top do lugar - que até acha a situação engraçada porque não consegue ter certeza se aquilo é sério ou alguma pegadinha.

 Você, lá no fundo, sente sua insuficiência, sabe que não é bom o bastante - e que ao que tudo indica nunca será - mas alguma coisa te move em direção ao precipício que apenas você não vê. Todos ao seu redor estão vendo claramente o tamanho da sua ilusão, mas você ouve "sim" onde foi dito "não", um "talvez" onde foi dito "jamais", um "com certeza" onde foi dito "nem que o mundo acabe amanhã".

 Talvez grande parte da culpa dessa história diária e triste seja das exceções que surgem , aparentemente, a todo momento, até que parecem comuns o suficientes para que nos acostumemos com a ideia de que poderíamos ser nós mesmos: O homem do interior que apostou 1 bilhete da loteria e ficou milionário, o  jovem com obesidade mórbida e sem um tostão no bolso que namora uma modelo maravilhosa, o morador de rua que conseguiu terminar uma graduação - enquanto ainda morava nas ruas - e hoje tem um importante cargo executivo em uma importante empresa.

 Isso pode até soar como teoria da conspiração, mas é muito mais fácil controlar um povo esperançoso do que um revoltado por ser cônscio de sua realidade - ainda mais se pensarmos em um povo revoltado e ignorante. Então, pode ser que as coisas não nos pareçam assim simplesmente porque isso faz parte da condição humana, pode ser que isso seja intencional, mais uma forma de controle. E para esse controle  funcionar basta fazer com que nos questionemos: "por que não eu?"

  - Mas aí você faz o quê?

 - Nada. Não sou tão pretensioso à ponto de imaginar ter uma solução real para a Vida. E também tenho minha boa parcela de esperança, meu auto-boicote de realidade diário, a sensação de que amanhã vai ser o meu dia de ganhar na loteria com um único bilhete, mesmo sentindo lá no fundo, que por algum motivo que obviamente não faço a mínima ideia qual é, sou insuficiente.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Rachel Sheherazade: The Punisher brasileira

 Parece-me que a explicação mais lógica para as declarações de Rachel Sheherazade e seus seguidores é o desconhecimento, ou conceitos e premissas errôneas, sobre o direito brasileiro - sem entrarmos na questão de sua inteligência, ou falta dela.

 Algumas declarações da moça:
  • Em nenhum momento, no meu comentário, há qualquer menção de apoio à violência praticada pelos justiceiros. Não disse que a atitude deles foi "aceitável" disse que foi "compreensível"
 No telejornal, em certo ponto, ela declarou: "O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite". Legítima defesa significa que não só é compreensível como também necessário; acho que isso está muito mais para apoio do que aceitação. E não sei como ela pode chamar um ataque de legítima defesa! Não há como seriamente chamar um linchamento de legítima defesa sem parecer idiota.
  • Quem é o PSOL para me censurar, se a Constituição Brasileira me garante o direito de livre expressão?
 Calma lá...  Há direitos e Direitos. O seu direito à livre expressão nunca lhe dará o direito de fazer apologia ao crime e disseminar discursos de ódio.
  • Se a legenda acha que faço apologia ao crime, me processe. Quem anda com a verdade, não teme a Justiça.
 Ah, é? Mais ou menos. Porque onde o "Estado é omisso, a polícia é desmoralizada, a Justiça é falha", suas atitudes podem muito bem passar impunes diante da Justiça formal, mas nada impede -segundo o ponto de vista da jornalista- que pessoas de bem, que não aguentam mais essa falta de respeito por parte do Estado, façam "justiça" com as próprias mãos e a pendurem em um poste depois de a lincharem por seus crimes de ódio.

 Salvo engano, em outro comentário a jornalista dizia que o povo estava em seu direito, pois todo cidadão tem direito de prisão. Isso é uma das coisas que me faz ter quase certeza que essa mulher é uma oportunista manipuladora sem escrúpulos. Qualquer cidadão tem direito de prisão, sim, mas é em flagrante delito; e o linchamento nunca está liberado. Mas ela não fala isso pra ninguém. Por que será?...

  E não se trata aqui de direita ou esquerda -apesar de que, de certo modo, se você é um reacionário, você não quer que as coisas mudem, aí fica meio contraditório reclamar de como as coisas estão- mas sim de um movimento retrógrado. Foram milhares de ano até que o Direito se tornasse mais justo e civilizado e vem uma jornalista cheia de ódio incitar o povo a abandonar toda esse trabalho e voltar aos tempos das cavernas.

 A jornalista não entende que os direitos que defendem o "marginalzinho" a defendem também. Se podemos negar-lhe esses direitos podemos negar a ela e aos "cidadãos de bem". Se podemos escolher a quem o direito se aplica ou não, isso é tudo o que o Estado precisa para criar um governo autoritário que pune quem quiser de acordo com sua vontade. Como eu disse, foram milhares de anos para o Direito se encontrar na sua atual configuração, não é algo aleatório, tem o seu porque de ser como é e com certeza é pensado para ser, ao menos em teoria, o mais justo possível.

 Mas há algo bom a se tirar do linchamento: isso claramente mostra o descontentamento com a sensação de insegurança que nos rodeia, e espero que isso chame a atenção do Estado de forma positiva. Mas todos querem pegar atalhos na hora de resolver os problemas. Ninguém quer votar em políticos que se disponham a investir em educação e programas sociais, que dariam resultados após 10 anos. Querem é o político que prometa acabar com a violência em um mês gastando todo o orçamento em policiamento, armas e equipamentos para os policiais - o que obviamente não vai resolver problema, afinal, até o momento o problema ainda existe.

 O desconhecimento de como opera o Direito gera grande parte da sensação de que a lei não se cumpre. Como se espera acabar com a criminalidade simplesmente abarrotando as cadeias com cada vez mais e mais pessoas? As cadeias deveriam funcionar como espaços onde os criminosos seriam ressocializados, mas na verdade funcionam como graduação de bandidos e freio social que faz com que a maioria das pessoas não cometam crimes,  pelo simples fato de que talvez sejam presos. Mas essas transformações que seriam necessárias no sistema carcerário demandariam muito tempo, dinheiro e esforço. Então o que fazemos? Tomamos o caminho mais fácil: entupimos as cadeias. Ou como querem alguns matamos todo mundo, porque é claro que assim resolvemos todos os problemas: matou? Morte. Roubou? Morte. Desviou dinheiro, público ou privado (o que também é uma forma de roubo)? Morte. Você é um pai de família, cristão, de bem, acusado de um crime que não cometeu e não teve direito a um julgamento justo? Azar o seu: morte.


É com bastante tristeza que escrevo este texto, pois vejo a quantidade gigantesca de seguidores da mentalidade grotesca de Rachel Sheherazade. E sei que muitos vão passar os olhos sem atentar para argumento algum e simplesmente bradar: "faça um favor ao Brasil, adote um bandido”. Mas tudo bem, como esperar encontrar bom senso onde não há?

 Agir como um bandido, à margem da lei, para fazer "justiça", é quase como tentar apagar um incêndio atirando mais lenha à fogueira. Criminoso bom é criminoso morto? Os linchadores teriam que morrer também. O ser humano é muito egoísta e assim só consegue ver seu próprio umbigo. É muito fácil reclamar de determinados direitos quando não somos nós os beneficiados, mas a coisa muda bastante quando é você que está do outro lado. E, mesmo que seja por engano, você pode estar desse outro lado e aí você vai querer fazer valer seus direitos. O que me lembra o caso d`"O ex-presidiário Heberson Lima de Oliveira, hoje com 30 anos, teve a juventude roubada por um erro da Justiça do Amazonas e luta para receber do Estado uma indenização depois de tudo o que passou. Preso em 2003 suspeito de estuprar uma menina de nove anos, ele ficou três anos atrás das grades até que teve a inocência provada. Isolado em uma cela destinada aos homens que cometeram crimes sexuais, ele foi estuprado pelos companheiros de cela e contraiu Aids, o que fez com que a liberdade chegasse de forma tardia para ele." Com ele também foi feita "justiça" com as próprias mãos, mas poderia ser com você aí.

 Consciência povo! Mais estudo e menos televisão, por favor.

 Referências das citações:

 Âncora do SBT, Rachel Sheherazade diz que ação de justiceiros no Rio é ‘compreensível’ e não ‘aceitável’
 Rachel Sheherazade: a porta voz perfeita do ódio das 'pessoas de bem'
 SBT: Comentário polêmico de Rachel Sheherazade é de responsabilidade dela
 Homem preso injustamente luta por indenização após contrair HIV em estupro no presídio

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Egito, Êxodo e Deus (todos os textos)

 Esta é uma pequena série de textos mostrando uma alternativa ao ponto de vista consensual sobre o êxodo do Egito, o Egito e regiões próximas nessa época e a formação da religião judaica, que por sua vez deu origem ao cristianismo e ao islamismo.
 Estes textos são uma espécie de resumo, trechos retirados do livro “TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia” (título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald, Editora Landscape, 2004. O livro é muito mais abrangente e detalhado do que o mostrado aqui, com inúmeras referências e pontos de vista alternativos sobre os temas abordados. Nesse resumo suprimi as referências e adotei os pontos de vista escolhidos como mais prováveis e necessários para o desenvolvimento do raciocínio dos autores. Quaisquer dúvidas ou pedidos de referências podem comentar que responderei.
 Estes textos, obviamente, estão aquém do original, no entanto, conseguem mostrar satisfatoriamente que o que sabemos talvez não seja exatamente da forma que pensamos ser. Para todos que se interessam pelo Egito, religiões, História e pela incessante busca pela verdade.

Parte I a: O faraó monoteísta e um panorama sobre o Egito à época do êxodo
Parte I b: O profeta e o êxodo do Egito como não conhecemos
Parte I c: O messias egípcio; e o fim do faraó monoteísta
Parte I d: Castigo dos deuses: As pragas do Egito

Parte II a: As primeiras tribos adoradoras de “Deus”
Parte II b: A Morada de “Deus”
Parte II-c: Construindo Deus
Parte II-d: Yahweh na Cidade de Pedra
Parte II-e: As pegadas do deus da montanha
Parte II-f: Conclusões sobre Deus