quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Egito, Êxodo e Deus: Parte II-d: Yahweh na Cidade de Pedra

 Esta é uma pequena série de textos mostrando uma alternativa ao ponto de vista consensual sobre o êxodo do Egito, o Egito e regiões próximas nessa época e a formação da religião judaica, que por sua vez deu origem ao cristianismo e ao islamismo. Os textos estão divididos em duas partes. Esta segunda parte é dividida em seis partes menores.
 Estes textos são uma espécie de resumo, trechos retirados do livro “TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia” (título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald, Editora Landscape, 2004. O livro é muito mais abrangente e detalhado do que o mostrado aqui, com inúmeras referências e pontos de vista alternativos sobre os temas abordados. Nesse resumo suprimi as referências e adotei os pontos de vista escolhidos como mais prováveis e necessários para o desenvolvimento do raciocínio dos autores. Quaisquer dúvidas ou pedidos de referências podem comentar que responderei.
 Estes textos, obviamente, estão aquém do original, no entanto, conseguem mostrar satisfatoriamente que o que sabemos talvez não seja exatamente da forma que pensamos ser. Para todos que se interessam pelo Egito, religiões, História e pela incessante busca pela verdade.



 A primavera de Moisés

 Se examinarmos o folclore e as lendas das terras da Bíblia, surgem três locais que alegam ser Ain Mûsa – A fonte de Moisés, onde Moisés bateu bateu na rocha com sua vara. Eliminamos Jebel Mûsa como provável local do Monte Sinai, e não há conexão direta entre a Montanha de Deus e o Monte Nebo, apenas o Ain Mûsa, situado em Wadi Mûsa, faz sentido do ponto de vista da narrativa bíblica.


 O tesouro do Faraó

 Na antiguidade, a água das nascentes de Wadi Mûsa fluíam através do vale e forneciam uma fonte vital do precioso líquido para os habitantes da cidade próxima de Petra, uma palavra grega que significa “a rocha”. Trata-se principalmente de uma imensa necrópole, que abrange um vale inteiro, fechado de todos os lados por um círculo de altos cumes, os quais constituem parte do maciço montanhoso de Seir. Contém cerca de 800 monumentos antigos, seja em estilo clássico ou assírio, que datam, em sua maioria, do século II a.C. até o século II d.C., e foram construídos por uma cultura árabe relativamente desconhecida chamada nabateus, parentes dos habitantes de Harã e dos mandeus. Acredita-se que em torno do século IV a.C., os nabateus começaram sua longa ocupação de Petra. A mais conhecida das grandes tumbas de Petra é a Khasneh el-Faroun, ou o tesouro do faraó, que apareceu no filme Indiana Jones e a última cruzada (1989).


 As águas de Meribá

 O fato de os nomes grego e hebreu de Petra ambos significarem “a Rocha” parece ligá-la diretamente à história de Moisés batendo na rocha e gerando as águas de Meribá em Cades. Em geral, Cades é identificada com Ein-el-Qudeirat, um vilarejo em Neguev (ou Negueb, ou Negev), pouco menos de cem quilômetros a oeste-nororeste de Petra. Ali o nome Cades parece ter sido preservado no nome de uma fonte local chamada Ein Qadis.

 Rekem, que também pode ser chamada Arke e Arce, é Petra, fato atestado não só em relatos textuais antigos tanto de origem judaica quanto cristã, mas também em inscrições nabateias recentemente descobertas na entrada do Siq(termo árabe que significa “fissura”, a entrada principal da cidade de Petra, conhecida como “Fissura de Moisés”, ou “Garganta de Moisés”).

 São Gerônimo (333-420 d.C.), o venerado patriarca da Igreja, visitou Petra, que identificou com “Cades Barnea”, ou seja, Cades, e falou de ver ali a tumba de Miriam, a irmã de Moisés. Assim, sabendo-se pela Bíblia que ela morreu e foi enterrada em Cades, esse local deve ser Petra, a antiga Rekem. Mais importante ainda, Flávio Josefo declara que Miriam foi enterrada em uma montanha “chamada Sin”, isso implica que o Monte Sinai deve ficar nas cercanias de Petra. Ao entendermos isso, podemos facilmente concluir que as lendas beduínas que ligavam a cidade de pedra à filha do faraó baseiam-se em tradições ainda mais antigas com relação à presença da tumba de Miriam no local. Foi ela quem propôs à filha do faraó que o recém-nascido hebreu que a princesa retirara da água fosse criado pela sua própria mãe.


 A rocha de Horeb

 Depois de os filhos de Israel entrarem no deserto de Sin, o livro do Êxodo nos diz que eles montaram tendas em Rafidim, onde não havia água para beber. As reclamações constantes fizeram Moisés implorar a Yahweh que fizesse um milagre, porque o povo estava pronto para matá-lo a pedradas se não pudessem beber água logo, ao que a deidade respondeu:

 Eu te esperarei junto à rocha de Horeb, e tu baterás na rocha, e dela sairá água para o povo. E Moisés assim fez na presença dos anciãos de Israel. E deu a esse lugar o nome de Massa e Meriba, por causa da discussão dos filhos de Israel e porque puseram Yahweh à prova, dizendo: Yahweh está no meio de nós, ou não?

 Os historiadores bíblicos sempre presumiram que os dois relatos em que Moisés faz fluir as águas de Massa e Meriba, ou Massá e Meribá, referem-se a incidentes completamente diferentes – um ocorrido em Horeb, no deserto de Sin, e outro que ocorreu em Cades. Mas parece bem claro, ao se examinar as duas narrativas, que elas se referem a um incidente apenas. Se for isso, Horeb e Cades são a mesma coisa, e ambos devem ser identificados como Petra. Assim, depois de analisar os vários candidatos possíveis a Montanha de Yahweh na paisagem em torno da cidade de pedra, os autores são da opinião que o Sinai, ou Horeb, só pode corresponder a dois possíveis candidatos. São Jebel Harûn, que fica a sudeste do círculo de cumes que cercam Petra, e Jebel Al-Madhbah, imediatamente a oeste da cidade de pedra.


 A defesa de Jebel Al-Madbah

 Em Jebel Al-Madhbah, um cume que se ergue a 1035 metros, há dois obeliscos escavados no próprio leito rochoso, o que significa que para criá-lo, toda a encosta da montanha precisou ser retirada. Esse feito de engenharia extraordinário foi atingido cortando-se enormes blocos retangulares de arenito de forma semelhante à retirada de blocos de rocha das pedreiras do Planalto de Gizé no Egito.

 O altar do sacrifício

 Al-Madhbah, o Lugar Alto ou o Altar, é uma plataforma oval com cerca de 64 por 20 metros de extensão. Na margem oeste está um altar esculpido em um banco de rocha, com 7,72 por 1,87 metros, e 98 cm de altura. À sua esquerda, fica uma bacia circular escavada na superfície superior da rocha, com um canal de drenagem que leva à uma piscina. Inquestionavelmente, seu objetivo era coletar o sangue dos animais sacrificados no Lugar Alto.

 A questão de quem foi o responsável pela construção do Lugar Alto é, assim como o autor dos obeliscos no nível ligeiramente inferior, objeto de pura especulação. Browning diz no tocante ao Lugar Alto:

Não se pode datar esse santuário com precisão mas acredita-se que seja obra dos nabateus, devido à alta qualidade do corte de pedra. Suas origens poderiam, porém, ser mais antigas. Ele pode muito bem ser um altar muito antigo, muito embora a disposição atual possa ser comparativamente moderna.

 De igual importância é o alinhamento do Lugar Alto, pois seu altar de pedra e degraus são orientados segundo um ângulo de 255 graus em relação ao norte. Com isso, ele se situa diretamente em frente ao pico mais setentrional de Jebel Harûn, que se pode ver erguendo-se por trás de uma crista montanhosa chamada Jebel al-Barra, a qual constitui o cume mais meridional de Umm al-Biyara.

 Em 1927, o Dr. Ditlef Nielsen, professor dinamarquês de história religiosa, viajou para Petra e passou algum tempo em Jebel al-Madhbah. No dia 08 de abril daquele ano ele observou a lua crescente descer encaixando-se exatamente em uma depressão em formato de sela em uma parede de pedra, alinhada horizontalmente em relação aos olhos do observador, sobre uma elevação nas cercanias de Umm al-Biyara, virtualmente preenchendo toda a fissura, um espetáculo que certamente os construtores do Lugar Alto pretendiam que fosse visto apenas de lá.

 A data em que ocorreu esse alinhamento lunar também é interessante, uma vez que era a semana antes da primeira lua cheia depois do equinócio de primavera. Na tradição israelita a festa da Passagem coincidia com a primeira lua cheia depois do equinócio de primavera. 


Parte II-c: Construindo Deus 
Parte II-e: As pegadas do deus da montanha 

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