sexta-feira, 17 de junho de 2011

Eu faço meu destino! Faço?

 Há muitos anos já, eu pensei sobre o destino e o quanto nós controlamos a vida que vivemos. Não tenho certeza, mas talvez a minha percepção a respeito disso tenha surgido através do conhecimento da 3ª lei de Newton: “toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário”. É claro que essa lei não se aplica exatamente dessa forma nas relações sociais humanas, mas uma coisa é fato: toda ação – seja qual for sua natureza - gera uma reação. Mesmo a opção de ficar parado, não se manifestar diante de algum acontecimento, é uma ação. Você realizou a ação de permanecer no mesmo lugar, ou de não responder ou, seja lá qual seja a situação, você agiu. A total inércia, o completo fazer nada levado ao pé da letra, é algo impossível de por em prática.

 Assim, pensei que se pudermos determinar as variáveis existentes no momento de determinada ação, podemos prever a reação. Isso é o mesmo que prever o futuro, é dizer que tudo o que acontece, acontece porque deveria acontecer. Essa idéia parece assustadora para muitas pessoas, de considerar que talvez suas escolhas, decisões, não seja bem “suas”, mas simplesmente fatos que aconteceriam em função de determinadas situações. Um exemplo: um assaltante aponta uma arma pra você. Qual sua reação? As possibilidades são quase infinitas: você pode dar um soco, um chute, chorar, correr, ficar parado olhando para o assaltante, desmaiar, etc.. Mas se nós pudéssemos determinar como toda essa informação – o assaltante lhe apontando a arma – é processada por seu cérebro, levando em consideração as variáveis externas, obviamente poderíamos saber qual seria sua reação. O problema é que na prática isso parece impossível, porque um computador, para fazer uma análise dessas teria de levar em conta muitas, mas muitas variáveis: por exemplo, sua trajetória de vida até aquele momento, tudo o que se passou e tornou você a pessoa que você é hoje; teria que saber como se dá a transmissão de informações em seu organismo, a quantidade de substâncias liberadas em determinada situação e suas consequências para seu organismo especificamente, e as especificidades genéticas herdadas de seus pais; além dos fatores externos como iluminação, vento, temperatura, som no ambiente etc.. E se houvesse como determinar e analisar todas essas informações, para realizar a mesma experiência no minuto seguinte, as variáveis teriam de ser todas alteradas, pois tudo estaria um minuto diferente.


 Mas essas coisas nao passavam de meros achismos, então busquei referências a respeito, que pudessem sustentar minha argumentação.

 “Um experimento relacionado realizado posteriormente por Alvaro Pascual-Leone envolveu pedir a pessoas que escolhessem ao acaso qual mão mover. Ele descobriu que estimulando diferentes hemisférios do cérebro usando campos magnéticos é possível influenciar fortemente a mão que a pessoa escolhe. Normalmente destros escolhem mover a mão direita 60% das vezes, por exemplo, mas quando o hemisfério direito é estimulado eles escolhem sua mão esquerda 80% das vezes. O hemisfério direito do cérebro é responsável pelo lado esquerdo do corpo, e o hemisfério esquerdo pelo direito. Apesar da influência externa sobre sua tomada de decisão, as pessoas continuam a relatar que acreditam que sua escolha da mão foi feita livremente.” (Retirado da Wikipédia).

 Com uma simples variação, pode-se obter 80% de chances de certeza sobre uma ação humana, regida por sua “própria vontade”, seu “livre-arbítrio”.

 "os homens se consideram livres porque estão cônscios das suas volições e desejos, mas são ignorantes das causas pelas quais são conduzidos a querer e desejar" (Spinoza, Ética, apêndice do livro 1).

 E praticamente sintetizando meu pensamento, cito Laplace:

 “Nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos” (citação na introdução do Essai philosophique sur les probabilités 1814)

 A teoria do caos defende a aparente aleatoriedade de certos eventos. Como exemplo, a alegoria do efeito borboleta (parte da teoria do caos): o bater de asas de uma borboleta pode ser responsável pela formação de um furacão do outro lado do planeta. Essa aparente aleatoriedade se dá pela impossibilidade de calcular todas as variáveis possíveis para determinado evento sem limites rigidamente definidos para que aconteça. Seria um argumento contra o determinismo, porém, a atual incapacidade de cálculo, não anula a possibilidade de sua existência.

 Os cristãos que talvez queiram defender o “livre-arbítrio” têm um dilema a resolver: como há livre-arbítrio se Deus é onisciente? Tanto é que algumas igrejas defendem um “meio-livre-arbítrio”, onde Deus tem seu plano, mas é escolha do homem segui-lo ou não. É incoerente, porque se ele é onisciente ele sabe qual será a escolha. E outras igrejas dizem que Deus já tem determinado os que serão ou não salvos. Alguns também defendem que Deus sendo onipotente, pode também querer decidir não saber o que irá acontecer. Usando como exemplo Cristo, que era Deus e ainda assim ignorante do futuro. Bom, Deus escolher pela ignorância dos fatos, não os torna imprevisíveis, e considero um jeito bastante sádico de ver Deus: um diretor que após ter produzido todo o filme, decide apagar sua memória simplesmente para poder melhor apreciar o entretenimento que criou.

 E qual o problema então? Parece-me que as pessoas que defendem a capacidade de fazer seu destino se sentem desestimuladas diante dessa perspectiva, e pensam que é uma desculpa para deterministas tirarem a responsabilidade de seus ombros. Não vejo problema numa vida determinista, porque pelo menos por enquanto, todos vão viver suas vidas sem saber do dia de amanhã. Isso não é tirar a responsabilidade, as leis humanas continuam agindo sobre as pessoas. O que fica em dúvida é a existência de uma verdadeira moral. Moralmente as pessoas não seriam condenáveis, já que seus atos são produto inevitável de determinados acontecimentos, o que por sua vez não os deixa livre de uma punição por esses atos, que apesar de “inevitáveis”, foram cometidos por eles.

 Viva e deixe viver! Realmente é estranho pensar que tudo acontece exatamente do jeito que deve acontecer, mas por tudo que eu disse acima, considero um pensamento bastante lógico. Se faz sentido, por que não aceitar? Por simples fé de que não é assim? A fé pode ser usada em ambos os lados, o que eu acho que deixa o determinismo em vantagem. Enfim, penso assim porque faz sentido, e isso não tira a beleza de viver, é apenas uma beleza diferente. Com os olhos voltados a uma perspectiva de que as coisas não são ao acaso, o que aponta para um propósito (que esteja claro: eu não afirmo que haja realmente tal propósito). Existe mesmo? Qual? De quem? Essas sim são questões polêmicas.

Um comentário:

  1. vai ver, no final somos só um gigantesco computador vivo como sugere o guia dos mochileros da galaxia hwahwaawhawhwahwa

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