sexta-feira, 13 de maio de 2011

Dádiva (ressaca moral)

 Uma qualidade? Pernicioso. Um rei Midas agraciado com o toque da degradação. Tudo o que toca torna-se obscuro, triste. Um desânimo de difícil compreensão, um mal estar que ao mesmo tempo é uma agradável companhia. Uma aventura ilógica.
 A pessoa tocada torna-se um pouco daquilo que ele mesmo é. Na verdade há uma troca. Fica um pouco com cada um, porém, a troca é justa? Vale à pena? Tudo vale à pena quando... Quando você não se importa com mais nada. Quando o número de mortos e feridos são apenas números, inexpressivos, para quem arrisca tudo.
 No sangue corre álcool, na saliva ebriedade. Assim fica fácil imaginar o que pode vir de um beijo. Normalmente: “nunca fiz isso antes”, “nunca fiquei assim”, “meu deus! O que aconteceu ontem?!” o suor só pode ser alucinógeno, não há explicação razoável.
 Pelo olhar espalha luxúria, vício e inconsequência. E tudo isso parece atraente. Quem em sã consciência se atrai por isso?! Porque não é um alguém qualquer. Sua mente deve ter potencial, estar à altura da loucura, merecê-la. Talvez aí mesmo esteja a resposta: quem em sã consciência. Deve haver um véu cobrindo de belo o que na realidade é oco e ao mesmo tempo denso como chumbo. Provavelmente da vaidade, um dos melhores pecados. Por si só, é bastante inofensivo, e ainda tem sua elegância, um ótimo pecado.
 E qual a pior parte? Há uma pior? A mais triste é que dói, por si mesmo e pelos outros, mesmo quando espera que o toque degradante torne-se o toque gelado. Mas realmente há dores necessárias, e algumas pessoas praticamente imploram por elas. E por haver bondade em seu coração distorcido, permite a dor. Algumas vezes da posse, outras da perda.
 Até quando? Quando vem Baco? Ou alguém que suporta o toque, e do caos possa fazer que surja renovação?

Nenhum comentário:

Postar um comentário